quinta-feira, 29 de julho de 2010

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Gostava de partilhar aqui um artigo da Lilian sobre o trabalho dela na prisão.
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Tive um convite para trabalhar numa prisão.
Ficámos contentes :)
Aliar o trabalho árduo e por vezes só estético, com o serviço público numa área onde as oportunidades são escassas, era desafiante e muito entusiasmante.
A Prisão que tinha vaga era a prisão de Pinheiro da Cruz. Uma prisão de alta segurança. Longe. Longe de tudo. No meio do Pinhal litoral alentejano, a caminho de Santiago do Cacém.
Uma vez por semana parecia pouco mas ter de acordar 3 horas antes de entrar, para fazer 2 horas de carro, e voltar era desgastante.
Foram 8 meses de sacrifício.

Mais tarde, houve a oportunidade de mudar para a prisão de Alcoentre.
Uma prisão de baixa segurança, a uma hora de distância de carro (metade do preço em portagens), porém dois dias por semana.
Aceitámos o desafio.

Acreditamos que os presos necessitam de cuidados básicos de saúde. Acreditamos na regeneração.
Um preso quando sai da prisão é acompanhado por um estigma que o afasta de muitos trabalhos, e arrependido ou não, cumpriu a pena e o castigo para o qual foi chamado.
Sair de uma prisão sem dentes, ou com eles estragados é arrepiante e por vezes humilhante (quem ainda tem amor próprio!), sendo que o mínimo exigido é sair tendo as condições para os tratamentos básicos e mínimos.

Somos contra a colocação de implantes, branqueamentos ou operações de estética pagos por todos nós, mas acreditamos que os cuidados básicos são necessários e extremamente importantes.

Tem sido uma oportunidade boa para crescer enquanto profissional, muitas bocas destruídas pela droga e pelo alcool, mas tem sido uma oportunidade para ouvir e aconselhar sobre o sofrimento e o castigo. Um tempo onde a linha que separa a verdade e a falsidade, se move dia a dia, a busca pela droga ou a busca por algo diferente tem sido inquietante.

Espero continuar este desafio, com este trabalho na prisão.

Nota: ler as fichas dos pacientes antes de os tratar por vezes é arrepiante, ver que são violadores ou assassinos não tem sido fácil, mas trabalho com segurança e nunca tive um único problema

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